Taís Brem | Adote uma ruína.

ruinasNão sei quanto a vocês. Mas, em mim, parte o coração ver tantas ruínas em minha cidade natal. Quem transita por Pelotas e outros municípios ao redor sabe do que estou falando. São prédios que urgem por reformas, instalações quase caíndo aos pedaços, lugares que podiam ser úteis, mas estão em estado acelerado de deterioração. Um pouco de ação do tempo aqui, uma forcinha dos vândalos ali e, assim, a coisa só vai piorando.
Para além dos clássicos – como o que era pra ser o Shopping Praça XV e o que um dia foi o Theatro Avenida -, existem muitos e muitos locais que tristemente estão se acabando. E, de um tempo para cá, passei a perceber outros, de menor porte, que acompanham a tendência. É a casa daquele conhecido que está com os tijolos à vista desde que foi erguida; o portão daquele parente que nunca soube da existência de um recurso chamado “tinta”; o vidro daquela janela, que quebrou há décadas, e nunca foi trocado; e a nossa própria casa, na qual, muitas vezes, deixamos rastros de construções e reformas inacabadas.
Obviamente, não estou falando de falta de dinheiro. Existem muitas coisas que são deixadas pela metade porque não houve recursos para concluí-las, isso é fato. Quem não tem nem o que comer, não vai ficar se preocupando se a casa está feia ou bonita. Por outro lado, também é fato que, às vezes, o problema se resume, tão somente, em falta de vontade. Em tese, ninguém tem nada a ver com a vida de quem acha que não vale a pena gastar alguns trocados para identificar decentemente o número da casa e prefere riscar os algarismos à mão. Ou deixar que o carteiro adivinhe a residência que está procurando. Porém, na coletividade, tudo isso colabora para que as cidades tenham uma cara meio abandonada. Com um pouco de esforço, todos podemos ajudar a melhorar o aspecto de nossa região, sem precisar desembolsar o que não se tem. Olhe em volta. Pode ser mais fácil do que parece.
Se os mais abastados podem transformar um monte de concreto em algo útil, como uma creche, um presídio ou um hospital, tudo isso é muito bem-vindo. Serão menos lugares para a propagação do tráfico e do consumo de drogas, por exemplo. Mas, quem ainda não tirou a sorte grande, pode tentar ajudar com o que está ao seu alcance. Limpando, capinando, pintando, rebocando, movimentando. Pelo bem de todos nós, adote uma ruína você, também.

Taís Brem, jornalista.

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